Crítica: A Guerra de Anna


A “Operação Barbarossa” foi a invasão do leste europeu e União Soviética posta em ação em 1941. A operação tinha um objetivo duplo: em primeiro lugar capturar os recursos agrícolas e petrolíferos do leste europeu e Cáucaso. Em segundo lugar, mas não menos importante, era a forma de colocar em prática o Lebensraum (Espaço Vital, em uma tradução livre) do governo nazista, onde os povos não-germânicos, em especial eslavos e judeus, seriam expulsos ou exterminados, e desta forma abrindo alas para a expansão dos ditos arianos.

É durante este período que o filme “A Guerra de Anna” (Anna’s War) se passa. Na zona de ocupação nazista da Ucrânia, Anna (Marta Kozlova), uma criança judia, sobrevive ao massacre de sua comunidade, sendo enterrada na cova rasa coletiva onde eram jogados os corpos dos assassinados.

Encontrada por uma família local que não queria problemas com os invasores, ela é entregue a um trabalhador que servia ao Reich, e acaba se escondendo numa lareira inutilizada da escola que se tornaria o escritório dos oficiais da ocupação. Lá, ela passa meses até a libertação da região, tendo que descobrir várias formas de sobreviver à falta de água e comida, e até mesmo ao rigoroso inverno ucraniano.

Apesar de parecer uma história fictícia, a trama se baseia em fatos reais: em 2010, Dmitri Khotckevich, usuário da rede social russa livejournal.com postou nesta a história de sua vizinha Ada, à qual sobreviveu a invasão oculta numa situação muito similar a de Anna.

O filme é de grande qualidade, principalmente narrativa. A protagonista não fala uma palavra durante o longa inteiro, sua única vocalização considerável é o choro após uma situação muito triste – fãs de gato, evitem essa cena – na qual o emocional quebrado da jovem é ainda mais destroçado. O fato de conseguir carregar uma trama inteira sem diálogos falados, ou escritos em tela como nos filmes mudos, e esta funcionar, é um dos maiores méritos da produção.

A narrativa visual é um dos maiores trunfos para que a falta de diálogos dê certo: a fotografia é utilizada como um tradutor do diálogo inexistente de Anna. Além de substituir as falas como forma narrativa, a fotografia é, na maior parte das cenas, muito bonita e bem pensada, em particular quando a jovem se põe a explorar os corredores e salas da antiga escola, quando estes estão vazios.

Um elemento que também merece elogios é a música, pois ela reflete a constante situação da protagonista, sendo tensa na maior parte dos momentos. Quando se encontra em um momento de ternura acompanha muito bem, sendo o segundo elemento que substitui as falas da protagonista.

Embora seja um papel difícil para uma criança, ainda mais se tratando da temática pesada do filme, Marta Kozlova faz um bom trabalho, e mesmo quando sua atuação pode não ser das melhores, ela merece elogios por conseguir segurar sozinha uma obra tão complexa.

“A Guerra de Anna” é emocionalmente pesado, e extremamente triste. Porém, é muito belo em suas imagens, e possui uma narrativa muito bem feita. Vale a pena assistir, mas fica o aviso que pode mexer com o emocional, sendo um excelente lembrete dos horrores do nazismo.

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por Ícaro Marques – especial para CFNotícias