Crítica: A Lenda de Golem


“A Lenda de Golem” (The Golem)  é o mais novo filme da cena de terror israelense. O longa é dirigido pelos irmãos Doron Paz e Yoav Paz, conhecidos por “Jeruzalem” (2015), outro título de terror com temática judaica, assunto no qual os irmãos parecem estar se especializando.

Escrito por Ariel Cohen, não é a toa certas comparações com “A Bruxa” (2015). Ambos os filmes se passam no mesmo século e,  apesar de fundamentalmente diferentes, a comparação se estabelece no que diz respeito à equipe ao cenário histórico, figurino, e em focar mais em uma experiência imersiva do que em uma série de jump scares.

A trama se passa no século XVII, na Lituânia, no momento em que uma praga se espalha pela região. Por estar isolada, uma comunidade judaica se mostra livre da epidemia, o que faz com que habitantes dos arredores acreditem que a praga é obra dos judeus e ameacem destruir a aldeia. Diante desse quadro, Hannah (Hani Furstenberg) – que secretamente estuda a cabala, proibida às mulheres – decide criar um Golem para salvar a aldeia, sem ter noção que a criatura pode se tornar uma ameaça ainda maior que os forasteiros.

O filme tem como um de seus trunfos consolidar o drama na aldeia antes do aparecimento da criatura. Acompanhamos a vida de Hannah e seu marido Benjamin (Ishai Golan) e entendemos o porquê dos estudos secretos da mulher e de sua posterior ligação com o Golem. Mas a trama poderia ter abordado melhor alguns personagens, como o rabino e a curandeira, e dado maior profundidade e tensão à obra.

Por ser produzido por uma equipe israelense, é visível em tela o conhecimento sobre o tema e o respeito às histórias judaicas. A simbiose apresentada entre Hannah e a criatura (interpretada por Konstantin Anikienko) também é interessante, ainda que não tenha sido aproveitada em toda sua potência.

Com cenários bem construídos e figurinos condizentes com a época apresentada, fica claro que alguns momentos do filme (vide os combates finais com o Golem) só não foram retratados de forma melhor devido ao orçamento limitado. Cenas de embate direto são cercadas de fumaças e ângulos difusos – uma solução no mínimo inteligente e que não diminui o valor da obra, mas que deixa a desejar em alguns pontos.

A trilha sonora é um dos pontos altos: destoante das trilhas de terror hollywoodianas, cheias de sons agudos que definem e antecipam sustos e aparições, aqui a trilha se mostra orgânica e cria a ilusão de ser composta por instrumentos da época, demarcando também a importância do violino de Benjamin na trama.

Um ar fresco à cena de terror, “A Lenda de Golem” é uma boa pedida aos amantes do gênero, principalmente àqueles que gostam de lendas religiosas e produções com certa elegância. Com câmeras lentas e uma montagem que se mostra sem pressa, o longa dos irmãos Paz consegue se mostrar macabro – com situações que flertam levemente com o gore – mas de uma beleza singela em suas cenas e cenários.

A questão que fica é se o filme contará com uma sequência – possibilidade garantida nos últimos segundos de exibição e que deverá ser definida de acordo com os números de bilheteria.

por Isabella Mendes – especial para CFNotícias