Crítica: A Vida Invisível


Rio de Janeiro, década de 1950. Eurídice (Carol Duarte) e Guida (Julia Stockler) são duas irmãs inseparáveis, que moram com seus pais e possuem uma educação rígida. Ambas desejam conquistar seus sonhos: Eurídice espera ganhar uma bolsa para estudar música e tornar-se uma pianista profissional; Guida sonha encontrar o verdadeiro amor. Após certos acontecimentos, elas acabam sendo separadas pelo pai, e em meio a um regime patriarcal são submetidas a uma vida de angústias, sempre sonhando com o dia em que se reencontrarão.

Essa é a história de “A Vida Invisível”. Dirigido por Karim Aïnouz, o filme é repleto de críticas às questões sociais, que infelizmente ainda rondam nossa sociedade. Apesar de ser sobre uma época, a produção abordou pontos bem específicos de situações que ainda rondam nosso cotidiano, e a forma delicada como cada assunto foi tratado, só nos faz refletir que muitas vezes, essas coisas podem estar mais perto do que imaginamos.

O roteiro sustenta uma alta dose de melodrama, a representatividade do sentimentalismo em todas as cenas é o que ajuda o espectador a se envolver na história, e é nesse momento que somos arrebanhados por um misto de inquietação, quanto ao rumo da vida das personagens.

O longa não é apenas feito para retratar a história de duas irmãs separadas, ele serve para traçar um contexto de o porquê tudo aconteceu. As personagens passam por diversas situações no decorrer da narrativa e todas são iniciadas e movidas pelo machismo. De forma bem explicita, a produção retrata o papel do homem ignorante, que acredita que a mulher é apenas um corpo, cujo seus sonhos e vontades devem ser anulados, em prol da felicidade daqueles que se acham “superiores”.

A produção optou por apresentar cenas de sexo com certa frequência, entretanto, em momento algum o tema foi utilizado como um ato de paixão; a partir do momento que esses trechos são exibidos, vemos nitidamente que estamos diante de um abuso sexual que se repete diversas vezes. A sensção é de Karim Aïnouz buscou retratar de forma clara, todo o aspecto angustiante envolvido não só naquela situação, mas em toda a dialética que cerca o filme.

“A Vida Invisível” está concorrendo a uma vaga ao Oscar em 2020, e particularmente acredito que seja um forte concorrente ao prêmio na categoria de Melhor Filme Internacional. Vencendo ou não, o longa está lindo, e com certeza vale a pena a ida ao cinema para se emocionar com a história de Eurídice e Guida.

por Victória Profirio – especial para CFNotícias