Crítica: As Férias Assustadoras de Nelly Rapp


Uma de minhas frases favoritas é de autoria de Professor Hermógenes, mestre de Yoga, escritor e poeta e um dos introdutores do Yoga no Brasil: “Deus me livre de ser normal”.

Então, foi um ótimo passatempo acompanhar a aventura de “As Férias Assustadoras de Nelly Rapp” (Nelly Rapp: Monster Agent), já que a protagonista do longa sueco dirigido por Amanda Adolfsson e baseado no livro “Nelly Rapp”, de Martin Wid mark e Christina Alvner, também não é das maiores adeptas do que é visto como “normal” pela maioria. Entenda-se: não há problema algum em ser “diferente”, desde que isso não fira a nós mesmos, nem a ninguém.

Nelly Rapp (Matilda Gross) é uma garota de 11 anos que não se encaixa aos padrões. Fã de histórias arrepiantes – inclinação que leva para trabalhos escolares que precisa realizar, com direito a muito ketchup para simular sangue -, ela tem grande dificuldades em fazer amigos que entendam/respeitem seus gostos peculiares. Ainda bem que ela pode contar com a sempre sincera amizade de seu cãozinho London (Wilda).

Depois de mais um fiasco diante de colegas de escola e seus familiares, a menina é levada por seu pai, Lennart (Jens Ohlin), para passar uma semana de férias na casa de seu tio materno, Hannibal (Johan Rheborg). O local, cujo ar de mistério é bem perceptível desde os primeiros instantes, também é habitado pela enigmática Lena-Sleva (Marianne Mörck).

A sagacidade de Nelly – que pode ser um dos pontos principais da produção, mas que na vida real poderia colocá-la em grandes problemas, uma vez que ela não hesita em entrar em ambientes desconhecidos, que incluem travessias por passagem secretas e imóveis aparentemente abandonados – vai levá-la a descobertas incríveis sobre o passado de sua família e que explicarão muita coisa sobre sua personalidade.

Nesse caminho de revelações, a menina fará uma inesperada amiga: Roberta (Lily Wahlsteen), cuja improvável e comovente história fará com que Nelly repense valores e ambições que supunha precisar para, de fato, encontrar-se.

Embora seja um filme claramente feito para crianças menores, o roteiro de Sofie Forsman consegue transmitir, de maneira muito sensível e inteligente, o quão problemática é a crença de que o que nos parece diferente não pode ser visto como aceitável. Através de uma alegoria formada pela aparição de figuras clássicas como vampiros, lobisomens e múmias, é possível perceber a sutileza com que as diferenças são mostradas como algo que devemos encarar com naturalidade.

Também é válido destacar o bom trabalho de pesquisa realizado para trazer às telas – ainda que em rápidas citações/aparições -, figuras do folclore escandinavo, como trolls (criaturas mais conhecidas do grande público, normalmente retratadas como pequenos goblins – semelhantes a duendes – ou gigantes agressivos e de pouca inteligência) e näcken (espíritos aquáticos que podem mudar de forma).

Assim como vale enaltecer a divertida cena em que vários personagens dançam ao som da excelente “Hoodoo Wanna Voodoo” (lançada em 1986 e interpretada pela banda pop sueca Trance Dance). A sequência lembra um dos maiores momentos do cenário musical e da cultura pop, que trouxe vários monstros à luz: o icônico clipe “Thriller”, marco na carreira de Michael Jackson.

“As Férias Assustadoras de Nelly Rapp” é uma boa opção para assistir em família.

por Angela Debellis

*Disponível para aluguel e compra nas plataformas: NOW, Looke, Vivo Play, Apple TV, Google Play, Microsoft e iTunes, nas versões dublada e legendada (com áudio original).

**Texto originalmente publicado no site A Toupeira.