Crítica: Até que você me ame


Angustiante. Essa é a palavra que melhor define os primeiros minutos de “Até que você me ame” (Hippopotamus). A produção britânica que tem basicamente dois personagens, nos apresenta Ruby (Ingvild Deila), que foi sequestrada e perdeu a memória, presa em um quarto branco – ela teve os ligamentos das pernas cortados impossibilitando que tente uma fuga. O sequestrador é Tom (Stuart Mortimer), um homem jovem que diz à garota que ela ficará ali até que se apaixone por ele.

O homem garante a Ruby, refeições, um ambiente limpo e demonstra não ter interesses sexuais, mas não podemos esquecer que ainda é um sequestro, e a personagem pretende escapar, por mais que ele insista que o cativeiro é a quilômetros da casa mais próxima.

A trama é basicamente Ruby tentando envolver Tom, ganhando a confiança do rapaz, enquanto ela recupera lentamente o movimento das pernas. O thriller é mais instigante nos primeiros minutos, com o desenrolar da trama, acaba perdendo o tom de suspense, uma vez que a partir da segunda metade é entregue a razão da jovem estar em cativeiro, ou pelo menos é isso que o diretor Edward A. Palmer quer que acreditemos.

Há também a tensão de não saber o que esperar de Tom: o homem não apresenta um comportamento violento com Ruby, mas o que esperar de uma pessoa aparentemente perturbada? A forma com que ele tenta condicionar a garota, fazendo-a dormir com uma mensagem repetida que diz que suas pernas estão quebradas e que ela não conseguirá se mover, ou como quando ela questiona quem é e o porquê dela estar ali e ele sempre dá a mesma resposta ensaiada. Outro detalhe é que ele vai liberando pequenas “recompensas” à rotina de Ruby, como um colchão, um cobertor e até livros.

Aos poucos a garota vai tendo pequenos flashs de memória, e temos acesso a lembranças de antes do cativeiro. Podemos perceber que a dupla já se conheciam e que em algum momento teve um relacionamento, porém analisando toda construção da estória sempre voltamos ao ponto: o que é real e o que é uma informação implantada no inconsciente da protagonista?

“Até que você me ame” tem a sorte do modesto elenco segurar muito bem o desenvolvimento das personagens. Com um final simplório, o filme é interessante e, vale lembrar que é importante ler nas entrelinhas. Mesmo com baixo orçamento, a produção é daquelas em que podemos viajar nas teorias e criar os mais diversos cenários.

por Carla Mendes – especial para CFNotícias

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes. Já disponível na plataforma Cinema Virtual.