Crítica: Belle


Um dos contos de fada mais famosos do cânone ocidental, em particular francês, é “A Bela e a Fera”. Originalmente escrito por Gabrielle-Suzanne de Villeneuve, tinha como função entreter adultos, e ensinar às meninas sobre os futuros e comuns casamentos arranjados da época, em especial a aceitar e amar seu noivo, pois no fundo da feiúra, brutalidade, e outros aspectos ruins, existiam eventualmente um príncipe.

Por sua vez, a fama deste pequeno conto fez com que suas contínuas adaptações, que datam desde o período de seu lançamento em 1740, se afastassem mais e mais das intenções originais. No entanto apesar de sua popularidade, “A Bela e a Fera” só alcançou os cinemas em 1946, com a famosa adaptação de Jean Cocteau, que influenciaria outra ainda mais conhecida, feita pela Disney em 1991. Ambas se tornariam as grandes referências de como adaptar o conto para adultos e crianças.

“Belle” do diretor Mamoru Hosoda é uma destas adaptações, e propõe trazer a história do conto para o contexto de redes sociais e jogos onlines do começo do século XXI.

O filme conta a história de Suzu, uma jovem japonesa extremamente tímida, mas que leva uma vida dupla: durante os horários de aula ela é uma estudante comum; porém ao se conectar com a rede social/Jogo Online “U” ela assume a identidade de Belle, uma cantora em ascensão na plataforma.

Seu grande show de estreia como superstar, no entanto, é interrompido por uma terrível perseguição a uma misteriosa fera, e vendo as feridas desta, a jovem se compadece. Agora ela tentará descobrir quem é esse Dragão, e qual sua verdade oculta.

Talvez o aspecto mais chamativo de “Belle” à primeira vista seja o gráfico. As animações são de uma qualidade incrível, o colorido é muito bem trabalhado e o contraste de estilos e paletas é perfeito para a narrativa visual do filme: dentro da rede social cores vivas se misturam aos tons escuros em grandes contrastes, destacando a natureza irreal do espaço digital, utilizando uma mistura de CGI e animação 2D, remontando aos gráficos de videogames; fora desta, o mundo é definido por cores mais desbotadas, e tons mais claros, com uso frequente do branco, do cinza e do bege.

Como todo bom musical, a música também merece grande destaque. Incomumente, a trilha é toda original, mas composta por quatro pessoas: Taisei Iwasaki, Ludvig Forssell, Yuta Bandoh, e Miho Sakai. Desta forma, pode contar com a diversidade que a produção pedia e explorar a especialidade de cada compositor.

Na parte dos vocais, Kaho Nakamura, a dubladora de Suzu, dá um banho com sua bela voz, além de ser autora de ser coautora da maioria das letras das canções utilizadas, quando não a única autora. Isso também se dá porque Mamoru Hosoda queria que a cantora pudesse sentir profundamente a música.

Em alguns momentos a trama se torna confusa, ficando difícil de acompanhar, dado o número de personagens envolvidos e o ritmo constantemente acelerado. Outro fator que gera confusão está na tradução, pois a história ocasionalmente se enrola em si mesma e leva até mesmo a dúvidas se é mesmo o roteiro ou se são as legendas que estão confundindo o espectador.

Ainda assim, “Belle” é um anime belo, tanto nas animações, quanto em sua música, e em sua trama. Para quem gosta de animação de qualidade, é uma ótima opção.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Paris Filmes.