Crítica: Bingo – O Rei das Manhãs


Não é segredo que o palhaço Bozo se tornou um ícone da cultura pop brasileira, mesmo sendo uma criação norte-americana. Por causa disso, é mais do que merecido que o personagem, ou melhor, o seu intérprete, Arlindo Barreto (encarnou o papel entre 1984 e 1986), ganhe um filme. E para alegria de uma imensa geração de fãs, esse filme chegou e é divertido, engraçado e, acima de tudo, emocionante.

Com o nome de “Bingo – O Rei das Manhãs” (devido aos direitos autorais todos os nomes foram alterados), o longa dirigido por Daniel Rezende (série O Homem da Sua Vida) não é só uma cinebiografia de Arlindo mas também uma viagem intensa aos anos 80, afinal de contas, temos uma contextualização detalhada e fiel de uma época dourada para o entretenimento tupiniquim.

Desde a chamada dos patrocinadores, já nos ambientamos no período em que a história ocorre. Destaque para as imagens iniciais em que vemos partidas de futebol históricas e até uma performance de Pablo, famoso dublador do programa “Qual é a Música”. Ao mesmo tempo, há uma trilha sonora fantástica que engloba vários clássicos da época, como “Titãs”, “Echo And The Bunnymen”, “Dr. Silvana e Companhia”, entre outros.

Mas não é só isso que chama a atenção no filme. A jornada do protagonista também impressiona demais, afinal de contas, vemos um jovem ator que faz de tudo para se destacar em um cenário concorrido e desonesto, mas que acaba entrando no mundo obscuro das drogas de uma forma tão intensa, que coloca em risco sua carreira e sua relação familiar.

A trama acompanha Augusto Mendes (Vladimir Brichta), filho de uma famosa atriz (Ana Lúcia Torre) que tenta ganhar uns trocados fazendo filmes pornôs para sustentar seu filho, Gabriel. Em busca da grande chance de sua vida, o protagonista tem a oportunidade de fazer um teste para apresentar um programa de palhaço.

Aprovado por uma produtora durona e tradicional (Leandra Leal), Augusto se transforma em Bingo e começa uma batalha para revolucionar a televisão brasileira. A partir daí, não faltam momentos hilários, principalmente nas cenas em que o programa infantil é retratado. Destaque para a famosa ligação em que um menino manda o palhaço tomar naquele lugar desagradável (isso aconteceu de verdade!) e também da sequência em que o apresentador percebe um menino incomodando um colega na plateia e o deixa sem graça ao vivo.

Muitos devem estar se perguntando se o fato do Bozo chamar Bingo e Arlindo ser Augusto atrapalha de alguma forma o andamento do filme. A resposta é definitivamente não! Os nomes podem ser outros, mas a caracterização do famoso palhaço é praticamente a mesma e a personalidade do personagem fictício é igual ao do sujeito da vida real. Em resumo, “Bingo – O Rei das Manhãs” é irreverente e uma linda homenagem à uma época marcante do nosso país. Além disso, é a escolha perfeita para quem quer saber mais sobre os bastidores da TV do Brasil.

Por Pedro Tritto – Colunista CFNotícias