Crítica: Compra-me um Revólver


“Compra-me um Revólver” (Cómprame um Revolver) é um retrato de infâncias afetadas pela violência dos cartéis. A história baseada em fatos reais se passa no México e mostra a conturbada e apavorante vida de crianças que têm suas vidas modificadas por causa da máfia, cujas existências são movidas por dois sentimentos opostos: medo e coragem, e o simples fato de acordar vivo já é uma grande sorte.

A protagonista do filme de Júlio Hernández Códon é Huck (Matilde Hernández Códon, filha do cineasta na vida real). A pequena narradora dessa história além de enfrentar a convivência diária com o crime, ainda tem que se disfarçar de menino para não ser separada do seu pai – o sujeito que faz o máximo possível para manter a dignidade e integridade física em meio ao cotidiano de servidão aos bandidos.

Se o intuito do diretor era chocar o espectador, ele conseguiu: a repugnância e a revolta de ver crianças sem direito à educação, a brincar, e que não tinham nem ao menos o amor de suas mães pois as mesmas eram sequestradas e separadas de suas famílias (algumas eram estupradas e depois assassinadas), tudo isso tira a inocência da infância, criando traumas e modificando o futuro delas.

Contudo o diretor pecou ao deixar toda a carga emocional e dramática para ser interpretada por uma criança, tendo em vista que teria a possibilidade de explorar várias outras histórias correlatas presentes na obra e que não tiveram um desfecho. Mesmo assim, a pequena protagonista mandou muito bem.

Colocando o enredo desse filme em um contexto atual, automaticamente o espectador irá associar a vida de Huck com a de milhares de crianças separadas de suas mães e tomadas pelo terror de não saber se terá o que comer no dia seguinte ou se terá o direito de permanecer vivo.

Isso está acontecendo atualmente, porém em um contexto diferente: a maioria dos que passam pelo fato é em decorrência das guerras no Oriente, da crise migratória que assola a Europa e da crise política da Venezuela. É muito comum assistir nos noticiários histórias dolorosas e incríveis de crianças que com toda a inocência genuína, enfrentam todos esses tipos de obstáculos na esperança de um futuro promissor.

Por fim, a única coisa que faltou foi um desfecho mais atraente, pois o longa foi intenso com histórias marcantes, mas não há um encerramento sobre a vida de Huck, se ela sobreviveu após todas as tragédias que enfrentou. Ficou um final meio vago, que deixa a cargo do espectador imaginar as prováveis resoluções.

No geral, a obra cumpre as expectativas e impressiona pelo extremo realismo em cenas fortes.

por Leandro Conceição – especial para CFNotícias