Crítica de Teatro: “Na Cama com Molière”


Inspirada na peça “O Doente Imaginário” (Le Malade Imaginaire), a comédia “Na Cama com Molière” tem sua narrativa passada em um cenário que remete a um hospital e conta com Um velho hipocondríaco – de nome Aragão – como protagonista.

A trama original de 1673 ficou famosa ao descrever a farsa do idoso que cria doenças em si mesmo. Na vida real, contudo, o autor Molière (que também deu vida ao personagem central na peça), faleceu uma semana depois da estreia, algumas horas após passar mal em cena.

Uma confusão de vozes entrando no palco dá início ao espetáculo. No começo ninguém entende o que está acontecendo, mas aos poucos percebemos o contexto da história. Com um elenco pequeno – inclusive com um ator interpretando dois papéis – a peça consegue destacar cada personagem individualmente, exceção feita ao filho do médico Doutor Boa Morte, que não fala uma palavra durante toda a apresentação.

A quebra da quarta parede e interações com os espectadores foram acertadas, dando um tom descontraído à história. A luz fica o tempo todo acesa na sala e remete diretamente ao ambiente proposto: um posto de espera de hospital público. Ainda assim, embora o espetáculo tenha se construído no improviso, ao provocar a interação do público o elenco não soube lidar com as pessoas que se recusaram a participar, mostrando certo desconforto.

Também não há um motivo claro ao público que justifique a personagem Tonha ser interpretada por um homem barbado, porém, ele é o ator que ganha mais destaque em cena e mesmo sendo um coadjuvante, Tonha é o melhor da história.

Já o restante do elenco tem uma atuação caricata, até um pouco previsível, sem conseguir convencer a plateia ou transmitir as emoções necessárias em algumas cenas.

Apesar de ser uma adaptação, notam-se críticas tanto ao que acontece na atualidade, quanto ao que já ocorreu na história. Como exemplo, há citações envolvendo a chamada “indústria da medicina”, composta pelos vários laboratórios farmacêuticos existentes, um leque incontável de remédios e a pouca crença e um atendimento decente nos hospitais.

A temporada paulista da peça se encerrou no último domingo, 28 de abril e precisou encarar momentos imprevistos, como a troca de integrantes do elenco e os improvisos que surgem a cada nova apresentação, mediante a participação da plateia.

Uma nova agenda de espetáculos já está prevista para o segundo semestre deste ano, mas ainda não há mais informações a respeito de quando esta acontecerá de fato.

Crédito das fotos: Jamil Kubruk.

por Beatriz Moura – especial para CFNotícias