Crítica: Família Submersa


O cinema argentino sempre nos proporciona dramas e comédias envolventes, ao chegar à sessão para assistir Família Submersa (Familia Sumergida), a expectativa era apreciar uma obra magnífica, tendo em vista que Mercedes Morán é a protagonista. Na trama, após a morte de Rina, sua irmã Marcela tem a vida abalada – angustiada pela perda, vários problemas familiares do passado voltam, deixando-a ainda mais aflita.

O longa retrata uma Buenos Aires acachapante, a trama central é concentrada dentro do apartamento de Marcela, um espaço pequeno onde moram cinco pessoas em meio a uma imensa bagunça. O contexto é simples: diante da dor, ao invés de se soltar, extravasar, a personagem se isola e traz todas suas dores para dentro de casa.

O incrível desse formato de filme é que ele não tem muita linguagem verbal, o que se sobressai, são os olhares intensos e gestos que complementam a intensidade emocional da narrativa. Isso foi muito notável na composição da personagem Marcela (Mercedes Morán, que já é veterana em papéis que exigem uma alta dosagem de intensidade e emoção, o mais recente foi Ana em Um Amor Inesperado).

Durante toda a exibição, o espectador aguarda uma cena de reviravolta e superação, mais isso a diretora Maria Alché ficou devendo, pois a obra é emocionalmente intensa, mas está longe prender a plateia do início ao fim. Talvez essa fosse a proposta, uma obra com um grau de emoções que somente um público mais evoluído espiritualmente compreenda.

A espiritualidade foi um dos temas abordados e de certa forma um trunfo no roteiro. Vários personagens que fazem parte do passado de Marcela vão surgindo e nunca sabemos quem está no mesmo plano espiritual e quais já não estão mais.

Outro ponto negativo é a continuidade: em determinadas cenas não encontramos coerência, o que pode confundir o espectador sobre o passado e o presente – talvez se o roteirista fizesse um pequeno ajuste na cronologia dos acontecimentos, a obra teria um melhor entendimento.

Há erros que podem ser relevados tendo em vista que é o primeiro filme dirigido pela cineasta Maria Alché, que tem bastante experiência em atuação e roteiro em uma carreira muito bem construído ao longo de 13 anos mas, só agora resolveu se arriscar na direção.

Faltou também uma trilha sonora que ajude a compor o cenário triste e de certa forma sombrio. O único momento em que aparece alguma sonoridade é no encerramento, quando não compreendemos se é uma sincera confraternização familiar, ou apenas uma reunião regada de rancor e ressentimento.

Analisando a produção em geral há mais pontos positivos que negativos, logo podemos concluir que o filme cumpre sua obrigação, porém, não supera as expectativas.

por Leandro Conceição – especial para CFNotícias