Crítica: Ford Vs Ferrari


A corrida das “24 Horas de Le Mans” é uma tradicional competição automotiva, originada em 1923 e realizada em Le Mans, uma cidade francesa. Consiste em uma corrida contínua durante 24 horas, como o nome indica, na qual os pilotos vão alternando, e ganha a equipe que obtiver mais voltas nesse período.

A competição, apesar de suas várias edições, no entanto ainda conta com a maioria de seus campeões sendo europeus, sendo que apenas três equipes não europeias ganharam: Ford, Mazda e Toyota. Em 1966, a Ford foi a primeira empresa a quebrar com a tradição dos campeões europeus, e ainda interromper a série de vitórias da rival Ferrari, estabelecendo a sua própria, vencendo as competições de 1966 a 1969, com o carro GT40 – cujo design foi feito pelo fundador da empresa Shelby Cobra, Carroll Shelby.

“Ford Vs Ferrari” traz a história desse momento histórico do mundo do automobilismo, contando como Carroll Shelby (Matt Damon) e o piloto Ken Miles (Christian Bale) desenvolveram o Ford Gt40 e as dificuldades encontradas pelos dois ao lidar com uma megacorporação, cujos interesses muitas vezes eram incompatíveis com o deles.

A primeira coisa a chamar atenção são os efeitos especiais. Logo no início, o filme já traduz a velocidade da corrida e a exaustão do piloto durante o longo período. A cena pode ser noturna, porém com a progressão da obra, vemos que a proeza dos efeitos não foi disfarçada com a escuridão: a velocidade das corridas é intensa, os efeitos pirotécnicos são impressionantes e nos momentos que a câmera filma internamente o carro em alta velocidade parecem realmente que o veículo está a 200 km/h. Os poucos efeitos digitais são usados apenas para reforçar os práticos.

Na atuação, o filme não fica atrás: Christian Bale – ainda que tenha um sotaque que parece exagerado – não parece o mesmo de outros trabalhos e mostra como é um ator talentoso, emulando tanto o físico quanto o comportamento de Ken Miles; Matt Damon também está muito bem e mostra como a maturidade fez bem para sua atuação, mesmo que algumas arestas precisem ser limadas. O elemento mais fraco neste quesito é Jon Bernthal, que atua bem melhor nas séries “Demolidor” e “O Justiceiro”, porém ainda faz um trabalho decente, sendo o exato oposto de seus filmes e séries anteriores.

O roteiro é incrível. Dramático, ao demonstrar todos os apuros que passou o piloto Ken Miles no período, todos os dramas do mundo do automobilismo competitivo e os sofrimentos que os pilotos passam durante e depois de suas aposentadorias. Existem, é claro, momentos engraçados, com piadas e cenas cômicas que se encaixam na trama e contexto ao invés de parecerem jogadas.

A fotografia é ótima e reforçada com os efeitos especiais transforma o filme em um verdadeiro banquete para os olhos, com cenas que sabem usar o visual a favor da trama. A música também está maravilhosa e se encaixa muito bem no resultado geral. O compositor Marco Beltrami traz toda sua experiência anterior em filmes de terror e de ação, para tornar a trama emocionante e mostra que é talentoso até fora de sua zona de conforto.

Ainda que “Ford Vs Ferrari” seja um filme sobre corridas, não é só para os fãs de automobilismo, mas também para quem aprecia produções com tramas interessantes, personagens bem desenvolvidos e belos visuais.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias