Crítica: Frankie


Alimentada por uma notícia chocante, Françoise Crémont (Isabelle Huppert), uma famosa atriz, conhecida pelo nome artístico Frankie, e matriarca de uma grande família franco-inglesa, reúne seus entes queridos, que incluem o atual e o ex-marido, além dos filhos de dois casamentos, em uma viagem de férias para a ensolarada cidade histórica de Sintra, a fim de passar um dia juntos. No entanto, o passeio acabar por expor uma dinâmica familiar complicada, e as dores carregadas por seus membros.

Essa é a trama do filme “Frankie” (Frankie) de Ira Sachs, diretor de “40 Tons de Azul” (2005) e “Deixe a Luz Acesa” (2012), vencedores do Grande Júri do Festival de Sundance. Seu novo filme retrata as complexas relações familiares, seus encontros e desencontros, enquanto Frankie tenta fazer com que todos fiquem bem – ainda que da maneira que ela deseja, e não necessariamente como os outros pensam.

A primeira coisa a se notar é a beleza de sua fotografia: Desde a posição dos takes, às cores das cenas, estão fantásticas. A escolha de uma paleta de cores vivas, que aos poucos se transforma com a história está muito bem feita, além do excelente trabalho de contrastes entre as diferentes cores. As posições dos takes não só reforçam as situações da história, mas mostram a beleza da região, justamente escolhida dentro da trama por isso.

À parte da fotografia, o filme conta com todos os dramas passados por famílias, em particular por aquelas que subitamente se veem esfacelando. No entanto, por mais que seja louvável sua escolha dramática, a produção demora muito a desenvolver seu discurso, em demonstrar as personalidades de seus personagens, resultando em um considerável atraso para gerar identificação do público, o que no final pode fazer com que passe despercebido o carisma de seus elementos. Outro problema reside no excesso de tramas paralelas, que ainda que se cruzem, acabam por se tornarem ligeiramente confusas.

Ainda assim, não faltam atuações interessantes. Em primeiro lugar, Isabelle Huppert acaba por fazer uma Frankie problemática, que está tentando compreender o próprio destino, e deixar um bom legado para trás, às vezes admitindo a si mesma que em parte seja apenas ego. Brendan Gleeson, como o atual marido de Frankie, tenta disfarçar a dor da atual situação, mas no fim, seu sorriso sempre carrega algo tristonho, e acaba por vezes roubando a cena.

“Frankie” carrega uma história enternecedora sobre aceitação, dor, e separações, e deve conquistar quem gosta de narrativas que expõem a complexidade das dinâmicas familiares.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias

*Filme assistido durante Cabine de Imprensa promovida pela Paris Filmes.