Crítica: Hebe – A Estrela do Brasil


Durante o fim dos anos 1980, Hebe Camargo, a mais famosa apresentadora brasileira de televisão na época – talvez até hoje – se encontrava em uma encruzilhada: manter sua integridade profissional ou ceder às pressões da censura, ferramenta que o governo democrático herdou dos militares e que manteria em uso durante alguns anos. Devido a este conflito, ela saiu da rede Bandeirantes de televisão e foi para o SBT, onde teve uma das mais populares fases de sua carreira.

“Hebe – A Estrela do Brasil”, dirigido por Maurício Farias, conta a história deste período. Com Andréa Beltrão à frente do elenco, o filme mostra os conflitos da apresentadora neste período fatídico: a pressão da censura em silenciá-la ao abordar temas considerados polêmicos, e seus conflitos com seu marido na época Lélio Ravagnani (Marco Ricca).

O maior brilho do longa está em seu roteiro. A obra consegue equilibrar a parte dramática/trágica da vida de Hebe com o humor de seu programa e de seu modo de agir. A condução da narrativa também é interessante: as metamorfoses da personagem, sua evolução estão muito bem representadas.

No departamento atuação, o filme também está de parabéns. Andréa Beltrão tem sua própria voz em tela, nem sempre sendo completamente fiel à personagem a qual representa, o que faz com que seu retrato não seja uma caricatura de Hebe, mas talvez algo muito mais próximo do real. Marco Ricca também atua de maneira eficiente como o marido machista e ciumento, e sua expressão traduz as oscilações de humor e a violência do personagem.

Talvez um dos pontos baixos do filme sua tentativa de discurso político. É interessante ver uma das maiores incoerências da apresentadora, a qual falava ser contra corrupção, mas apoiava um político notoriamente tido como corrupto. Porém, é importante dizer que há um cuidado com o tema, a fim de que não haja mais polêmica do que o aceitável para as épocas atuais.

“Hebe – A Estrela do Brasil” é uma boa opção para quem gosta de títulos biográficos, assim como para quem se interessa também por dramas. Válido para quem já conhece a trajetória da apresentadora e para quem somente agora vai se interessar por sua tão rica história.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias