Crítica: Into The Forest


Isoladas numa longínqua casa de campo e na iminência de um apocalipse muito atípico e totalmente plausível, as irmãs Nell e Eva (Elliot Page e Evan Rachel Wood) tentam sobreviver aos problemas a serem enfrentados por duas jovens.

Disponível na Netflix, o drama canadense “Into the Forest” é baseado no livro homônimo da romancista Jean Hegland e tem a direção de Patricia Rozema que também dirigiu algumas outras obras mais “cults”.

Toda a produção e atuação são, em suas maiorias, focadas nas irmãs, o que torna uma escolha perigosa, já que a responsabilidade fica por conta somente das duas atrizes; entretanto, filmes assim tendem a desenvolver muito bem as camadas das personagens.

Embora Elliot Page mais uma vez tenha feito um papel de “Elliot Page”, sua atuação e reações frente às circunstâncias adversas foram excelentes, mas soube transmitir raiva, angústia, preocupação, etc. Diferentemente de Evan Rachel Wood, pois, a não ser que a diretora tenha proposto uma personagem frígida, ela é desprovida de emoções em situações limites.

Alguns personagens secundários são retratados e desenvolvidos de forma superficial, como Robert, o pai das garotas (Callum Keith Rennie), o desnecessário Eli (Max Minghella), e o lojista Stan (Michael Eklund) – que, embora tenha pouca participação, atua muito bem num dos momentos chaves do filme.

A fotografia está muito bonita, principalmente nas tomadas dentro da floresta, nas quais são enquadrados os feixes de pouca luz no bosque fechado, além disso, a trilha sonora melancólica cai perfeitamente em filmes de apocalipse.

A obra não é uma daquelas produções hollywoodianas e possui um ritmo um pouco lento. Embora as camadas das irmãs tenham sido muito bem desenvolvidas emancipando-as ou regredindo-as, o roteiro não vai a lugar algum, nem ao menos propõe reflexões mais aprofundadas perdendo até mesmo a chance de criar um debate acerca da cena mais pesada do longa, como o estupro e o aborto em decorrência deste crime (isto não é spoiler).

O único tema proposto indiretamente é a tentativa de conceituar um transtorno neurótico chamado de Fuga Dissociativa ou Estado de Fuga, apresentado quase que imperceptivelmente no início do filme, no qual o indivíduo sofre uma espécie de amnésia podendo até mesmo assumir uma nova identidade.

“Into the Forest” retrata diretamente a relação fraterna de duas jovens inexperientes, tais quais suas evoluções como sobreviventes de um desastre. É um filme escrito, dirigido e atuado por mulheres, quase uma ode ao extinto de sobrevivência materno.

por Carlos Guga – especial para CFNotícias

*A publicação deste texto é parte de uma atividade proposta no Workshop “Vamos falar sobre: A Crítica Cinematográfica” promovido pelo editor-chefe do site, Clóvis Furlanetto.