Crítica: “Limites”


“Limites” (Boundaries) é o novo filme dirigido e roteirizado por Shana Feste, e estrelado por Vera Farmiga e Christopher Plummer. Laura (Farmiga) e seu filho, Henry (Lewis MacDougall), se veem obrigados a levar o avô Jack (Plummer), um velho traficante de maconha, após ser expulso de sua casa de repouso por sua plantação ilegal, de Portland a Los Angeles. A viagem, deveria ser tranquila e breve, porém o avô tem outros planos.

O longa explora as tramas familiares, os conflitos entre pais e filhos, particularmente a questão do abandono parental, a questão dos traumas da infância, e as ramificações deste último. Teria tudo para ser um drama pesado, porém prefere uma abordagem cômica. Por sua vez, todos os aspectos cômicos não o tornam uma comédia pastelão, mas mais contida e sóbria. E faz muito bem, de maneira que mesmo contida faz com que o público ria das coisas que sem precisar apelar à ofensa ou à baixaria, com apenas uma exceção: o fato de Henry desenhar as “almas” das pessoas na forma delas peladas – ou como ele imagina elas peladas.

Ainda no assunto dos personagens, todos têm um traço excêntrico ou estranho: Laura, é uma pessoa traumatizada pela ausência e abandono parental, tanto próprio quanto do próprio filho, e compensa isso resgatando qualquer animal de rua; Henry, faz desenhos de pessoas peladas, e é extremamente distante e depressivo; Jack é um verdadeiro canalha compulsivo, que faz de tudo para sair por cima, mas com um carisma e charme próprios. Além deles, a chefe de Laura, Sofia, o ex-marido dela, Leonard, o falsificador de artes, Stanley, e outros, todos têm pelo menos um aspecto estranho que faz eles destoarem do que seriam pessoas ‘normais’.

Infelizmente, é ligado a esses personagens que surge o principal problema da trama: a falta de coesão. Alguns dos episódios pelos quais Laura e sua trupe passam, são pontuais demais, e pouco desenvolvidos para além de deixar um gancho para o próximo momento da história. Além disso o comportamento de Laura e Jack, que leva ao conflito dos dois, é inconsistente, particularmente no caso do avô. Esses dois elementos deixam a narrativa um tanto confusa e desconexa, porém o filme se mantém uma comédia interessante.

“Limites” é uma escolha atraente para os fãs de road movies. Seus personagens excêntricos, sua trama que aborda temas pesados de maneira leve e bem-humorada, também o tornam um filme para quem gosta de comédias mais profundas do que a maior parte presente no mercado.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias