Crítica: O Auto da Boa Mentira


Baseado em histórias e frases famosas de Ariano Suassuna, ditas em palestras e entrevistas, estreia “O Auto da Boa Mentira”, dirigido por José Eduardo Belmonte e com roteiro de João Falcão, Tatiana Maciel e Célio Porto.

As famosas frases de Suassuna são inclusive inseridas ao longo do filme, entre as histórias apresentadas. A linha condutora é o que o famoso autor e dramaturgo chamava de “boa mentira”. O filme, que é dividido em quatro atos, dá vida de forma bem humorada às mentiras favoritas de Suassuna, mentiras que não são grandes ou perversas, mas pequenas e cotidianas, com boas intenções e por vezes até carregadas de ingenuidade e esperança.

Na primeira história, “Fama”, somos apresentados ao sem graça subgerente de RH Helder (Leandro Hassum), um trabalhador sem importância que, ao ser confundido com um comediante de sucesso, passa a levar a mal entendido adiante e tirar proveito da situação. No entanto, as mentiras que se pareciam muito vantajosas levam a rumos perigosos quando Helder encontra a misteriosa Caetana (Nanda Costa).

A segunda, intitulada “Vidente”, é sobre um jovem (Renato Góes) que não acredita em nada, mas tem suas certezas abaladas ao se deparar com um mistério circense envolvendo sua mãe (Cássia Kis) e um palhaço chamado Romeu (Jackson Antunes). O ato mescla de forma interessante o humor lúdico do circo e a delicadeza das obras de Suassuna.

No terceiro conto, “Furão”, somos apresentados ao gringo Pierce (Chris Manson) que vive no Rio de Janeiro e se considera um legítimo carioca. Ao ter faltado em uma confraternização do amigo Zeca (Sérjão Loroza), inventa uma desculpa para acobertar seu “furo”. O que ele não esperava é que a mentira saísse do controle e acabasse o envolvendo com o chefe do morro.

Na última história, chamada “Disney”, acompanhamos a estagiária Lorena (Cacá Ottoni), que passa despercebida no escritório de publicidade de Norberto (Luis Miranda) e nutre um amor platônico pelo colega intelectual Felipe (Johnny Massaro). Em meio ao ambiente pseudointelectual, recheado de histórias sobre luxo, livros difíceis e viagens à Disney, Lorena se sente sempre deslocada e, ao não aguentar mais se sentir invisível entre os colegas de trabalho, cria uma pequena mentira que a coloca em uma situação inusitada e que bota em cheque todas as mentiras dos funcionários do escritório.

As tramas não têm o mesmo ritmo e são bem diferentes umas das outras, mas o ar de causo está em todas e a tal da boa mentira confere uma boa união aos atos.

O título do filme faz claramente uma alusão à outra obra do autor, que fez muito sucesso ao ser adaptada para o cinema, “O Auto da Compadecida”, mas não espere uma obra muito semelhante.  Apesar de dividirem “O Auto” no título, os longas se diferenciam muito e o “O Auto da Boa Mentira” se distancia do folclórico e regional, já associado ao autor, e ganha um ar de crônica social e dos costumes que pode ser aplicado a qualquer lugar do Brasil e que é transportado com sucesso para os dias atuais.

O roteiro, até mesmo por ser dividido, não conta com personagens tão carismáticos quanto João Grilo e Chicó, nem cenas tão marcantes, mas é simpático e divertido e tem em si o humor contagiante de Ariano Suassuna, sendo uma bela homenagem ao autor.

por Isabella Mendes – especial para CFNotícias

*Titulo assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Imagem Filmes.