Crítica: Sem Perdão


Tragédias sempre são fontes inesgotáveis de inspiração para roteiristas e diretores mundo afora. No drama “Sem Perdão” (Unforgiven ou em russo: Непрощенный), o diretor Sarik Andreasyan conta como o arquiteto Vitaly Kaloyev externou a dor de perder sua esposa e filhos por meio da vingança.

O longa russo, uma das estreias da semana da plataforma Cinema Virtual, traz a história de Vitaly Kaloyev (interpretado por Dmitry Nagiev), após da perda de sua família no desastre aéreo no Lago de Constança, Alemanha em 1º de julho de 2002.

Há uma breve introdução, quando somos apresentados ao núcleo familiar de Kaloyev – o roteiro reforça pontos como o quanto ele era um profissional excelente, um pai presente e um esposo apaixonado. É exposto nas cenas iniciais, e relembrado ao decorrer da trama, o quanto Vitaly é um homem íntegro e ligado à família.

Logo no primeiro ato, acontece o fatídico acidente que mudaria para sempre a vida do protagonista: ele estava em Barcelona e aguardava a chegada de sua esposa e filhos no voo 2937 da Bashkirian Airlines, quando recebeu a notícia da queda do avião.

Vitaly Kaloyev foi um dos primeiros familiares das vítimas a chegar ao local e participou das buscas pelos corpos. No filme, o primeiro corpo que ele encontra é do da filha, a pequena Diana de apenas 4 anos, uma das cenas mais tensas da produção.

Após o acidente, acompanhamos um protagonista que não consegue superar o luto e que solitariamente busca por justiça. É quando decide contratar um detetive particular e ir em busca dos culpados pelo acidente que ceifou a vida das pessoas que ele mais amava.

Detalhes técnicos foram muito bem trabalhados e aproveitados. Por menos detalhista que o espectador seja, fica impossível não observar detalhes como os enquadramentos e ângulos utilizados. Sem falar da trilha sonora milimetricamente calculada, tudo em perfeita harmonia para reforçar o tom dramático e até um pouco sombrio da narrativa.

Outro detalhe importante é que o longa possui diálogos extremamente curtos – por vezes, o silêncio entre os personagens é tão intenso que nos torna sensíveis aos mínimos ruídos em cena. O que deveria ser um ponto positivo se torna um problema, pois Dmitry Nagiev por vezes não consegue entregar a emoção exigida em determinados momentos.

Um ponto interessante para ser analisado é que Vitaly Kovayev, após o assassinato de Peter Nielsen, volta à Rússia como um herói. Não nos cabe julgar o que é moralmente aceitável, contudo, em alguns momentos você se questiona se o filme é usado para reforçar esse conceito de “olho por olho”. Mesmo que isso não seja explícito, ficamos com essa sensação de que há uma tentativa de se justificar o crime cometido pelo arquiteto.

“Sem Perdão” é um bom filme. Sarik Andreasyan conseguiu trabalhar muito bem todos os elementos para que o resultado fosse realmente dramático. Aproveite que o filme já está disponível no Cinema Virtual e confira todas as particularidades desta história.

por Carla Mendes – especial para CFNotícias

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.