Crítica: Sobibor


É impossível assistir a “Sobibor” e não ser grato por não ter presenciado essa época horrível na história humana. Baseado em fatos reais, ocorridos no campo de extermínio Russo em Sobibor durante a Segunda Guerra Mundial, o longa retrata os acontecimentos no período nazista de uma forma muito realista, dá para sentir o medo nos olhos dos atores.

A narrativa destaca todo o heroísmo do oficial soviético Alexander Pechersky, muito bem interpretado pelo ator Michalina Olszanka: através dele centenas de judeus conseguiram fugir do campo de Sobibor, ele conseguiu montar um grupo e organizar uma fuga em massa. O filme foi o representante da Rússia ao Oscar 2019, na categoria de Melhor Filme Estrangeiro – graças às atuações impecáveis, os enquadramentos que fazem o espectador se sentir dentro da ação, as sequências muito bem elaboradas, sem nenhum erro de continuidade.

“Sobibor” ressalta a importância de produzir filmes sobre esse tema, justamente para não nos esquecermos desse período repugnante. Devemos nos lembrar do passado e aprender com ele – os campos foram destruídos, mas as memórias jamais. O nazismo é uma das maiores manchas na história humana, e é justamente a luta contra essa mancha, que deu início à resistência de um povo, que dura até hoje. A obra mostra a força do ser humano: eles perderam tudo, familiares, casas, liberdade e em determinados momentos até a vontade de viver, e mesmo assim lutaram com chances mínimas de vencer, mas venceram.

O cenário é sombrio, o que atrai muito a atenção, pois o enredo pede isso: as principais imagens foram gravadas no outono de 2016 na Lituânia, época que costuma ter baixíssimas temperaturas, o que causou dificuldades para o elenco, e mesmo com esses percalços os atores se entregaram de corpo e coração, o que resultou nessa obra magnífica. Todas as pessoas deveriam assistir a esse filme pra entender um pouquinho a dimensão da crueldade que foi o nazismo e o mal que esse genocídio causou em todas as vítimas diretas e indiretas.

Há momentos que são tão desesperadores que fogem de qualquer conceito ético e moral: isso foi perceptível em uma das falas, “os judeus não são assassinos, vocês nos ensinaram a matar”. Essa frase dita por Alexander é muito tocante, pois nesse momento até mesmo crianças estavam ajudando a matar os soldados alemães, o desespero era tanto que não importava quem iria viver ou morrer, mas se ao menos um judeu sobrevivesse, a rebelião havia compensado.

Ao todo 250 mil pessoas foram exterminadas no campo de Sobibor, apenas 300 prisioneiros conseguiram fugir, cerca de 50 prisioneiros entre eles Alexander Pechersky sobreviveram até o final da Segunda Guerra Mundial, contudo os heróis de Sobibor só tiveram seus devidos reconhecimentos em 2016, quando Alexander foi postumamente premiado com a ordem de bravura pelo presidente da Rússia.

Por mais que já tenham se passado décadas, o nazismo é muito vivo nas memórias dos que sofreram. Os danos a essas vidas são incalculáveis, pois vão muito além de valor financeiro. O filme não só supera as expectativas como também, deixa um alerta: jamais permitiremos que tirem a nossa liberdade.

por Leandro Conceição – especial para CFNotícias