Crítica: Sobrenatural


Ainda que tenha dirigido obras de outros gêneros, foi com o terror que James Wan conseguiu se estabelecer entre os diretores mais populares entres os fãs. Já em seu trabalho de estreia, “Jogos Mortais” (2004), Wan mostrou que poderia – e assim o fez – escrever seu nome na indústria do entretenimento.

Em 2010, esteve à frente da direção de “Sobrenatural” (Insidious), que caiu na complicada situação de dividir tanto público quanto crítica e é uma boa prova de que há gostos para tudo, pois se há quem o tenha entre os mais fracos da década em relação ao gênero, há quem o defenda como “brilhante dentro de um baixíssimo orçamento” até hoje.

A história gira em torno do casal Renai e Josh Lambert (Rose Byrne e Patrick Wilson), que após um acidente doméstico, vê um de seus três filhos, Dalton (Ty Simpkins), entrar em um estado semelhante ao coma, mas cuja causa não é reconhecida por nenhum ramo da medicina.

Meses se passam e, além do garoto não apresentar nenhuma alteração em seu quadro, sua mãe começa a perceber que há algo de estranho na casa em que residem. É quando sua avó paterna Lorraine (Barbara Hershey) sugere que Elise (Lin Shaye) – uma paranormal que a conhece previamente – seja chamada para tentar descobrir se há algum elemento que possa esclarecer o que a medicina convencional não consegue.

Se o filme escapa do clichê (que quando bem realizado ainda convence) da casa mal-assombrada, é justamente nesse ponto que se perde um pouco. As tais visões de Renai são explicadas como sendo espíritos que querem possuir o corpo de Dalton, aproveitando o estado letárgico em que se encontra, então, independente de onde o menino estiver, tais entidades também se manifestarão.

A ideia do roteiro de Leigh Whannell – que seguiu como roteirista / diretor do que viria a se tornar uma franquia, com até aqui, quatro filmes – é boa, mas a execução deixa a desejar. Por um lado, a fotografia e a iluminação da produção contribuem muito para o clima de tensão (é bem provável que muitos que viram a obra se pegaram com um pequeno arrepio na nuca ao ter que olhar para trás – seja ao levantar da cadeira do cinema ou do sofá da sala).

Por outro, a personalização das tais entidades beira o caricato. A decisão de mostrar um ser demoníaco com todas as características mais “básicas” – como o uso das cores preto e vermelho e cascos nos lugar dos pés – acaba sendo um fator determinante para causar temor ou indiferença nos espectadores, de acordo com suas crenças pessoais.

Com extrema capacidade de oferecer finais impensáveis (vide os últimos minutos de “Jogos Mortais”, dirigido por ele em 2010), James Wan entrega mais surpresa na cena final de “Sobrenatural” do que em boa parte dos 102 minutos de duração do longa.

O que fez com que, embora tenha tido uma recepção mista, o título acabou ganhando uma continuação em 2013, “Sobrenatural: Capítulo 2”, mesmo ano em que o diretor deu início a uma das mais bem-sucedidas franquias de terror de todos os tempos, com o lançamento do primeiro “Invocação do Mal”.

Mas vale a pena assistir? Para quem é mais difícil de assustar, o resultado pode pender para a decepção, mas os mais suscetíveis a jumps scares (que se alternam entre eficazes ou não), ou que não procuram nada muito inovador no gênero, podem gostar.

por Angela Debellis – especial para CFNotícias

*A publicação deste texto é parte de uma atividade proposta no Workshop “Vamos falar sobre: A Crítica Cinematográfica” promovido pelo editor-chefe do site, Clóvis Furlanetto.