Crítica: Tsé


“Tsé” é um documentário brasileiro produzido por Fábio Kow, um dos netos de Tsecha Szpigel, uma judia polonesa que chegou ao Brasil em 1949, e faleceu quase 50 anos depois. A obra é contada pela própria Tsé e por sua família, que narraram sua história desde quando ela ainda era menina, relatando fatos do regime nazista, campos de concentração e a luta pela sobrevivência.

O documentário se inicia com a narração de Tsé contando um dos objetivos que esperava alcançar com o marido assim que chegasse ao Brasil, logo em seguida Fábio se apresenta como neto e passa a dar continuidade à história, contando tudo em ordem cronológica. Desde o início ele deixa claro o carinho e a admiração que sentia por seus avós. E não foi difícil notar que essa produção seria uma doce homenagem a uma das pessoas que ele mais amava na vida.

O modo como o longa foi produzido trouxe a proposta de um álbum de família, o qual todos estavam convidados a conhecer. O diretor não só narrou a história da avó, como convidou sua família a participar também: cada um em determinado momento contou trechos do que havia acontecido na infância de Tsecha. Essa foi uma das coisas mais interessantes de se assistir, pois tínhamos ali os comentários dos filhos, netos e bisnetos, como se eles tivessem vivido aquela experiência, e como se não houvesse uma passagem de tempo.

Apesar de não se lembrar com clareza das datas, Tsé recordava com riqueza de detalhes toda a sua vida. Sua trajetória era emocionante e uma coisa que todos foram unânimes em afirmar, era que ela tinha um profundo amor à vida. Tsecha passou por situações terríveis, como ser jogada de um trem por sua mãe para que conseguisse escapar de um campo de extermínio; além disso, ainda percorreu alguns quilômetros até encontrar seu pai, preso em um campo de concentração – lá manteve-se escondida junto com seu irmão durante algum tempo. Infelizmente, ela nunca mais o viu.

Os filhos da senhora nunca souberam de sua história até o documentário ser produzido – esses fatos foram contados apenas para os netos – e todos fizeram questão de demostrar o quanto a avó era importante para cada um deles. Apesar das marcas que a vida lhe deixou, Tsé não recordava de sua trajetória com tristeza: ela era uma sobrevivente e o fato de estar bem era a única coisa que importava.

por Victória Profirio – especial para CFNotícias