Entrevista: Participamos da Coletiva Virtual da série “Hard”


Nessa quinta-feira, 07 de maio, tive a oportunidade de participar da coletiva de imprensa virtual de “Hard”, nova série da HBO, uma adaptação brasileira da série francesa de mesmo nome. Dirigida por Rodrigo Meirelles, a comédia conta a história de Sophia (Natália Lage), uma dona de casa que descobre que o finado marido era dono de uma produtora de filmes pornôs, e agora cabe a ela tentar tocar o trabalho da empresa à frente.

A série conta com os talentos de Júlio Machado, Martha Nowill, Fernando Alves Pinto e Denise Del Vecchio, que também participaram da entrevista. Também participaram da coletiva o Vice-Presidente Corporativo de Produções Originais da HBO Latin America, Roberto Rios, e o produtor Fabio Gullane.

Um dos grandes focos foi o processo e como separá-la de sua original francesa. Segundo Meirelles, a série em primeiro lugar procurou uma linguagem própria brasileira, desta forma adaptando-a a uma realidade do Brasil, não tentando fazer apenas uma conversão da série para o idioma brasileiro. Sendo assim, aproveitou-se muito da sexualidade aflorada que é vista como típica dos brasileiros e também da realidade do pornô nacional que teve uma grande mudança nos últimos anos, além do conflito entre a realidade atual da pornografia e a dos anos 1980 e 1990, época na qual, no universo da série, o estúdio do finado marido da protagonista viveu seu ápice.

Sobre as inspirações além da versão original, a produção contou com uma vasta gama de documentários sobre a realidade por trás das telas da pornografia, porém uma coisa muito importante foi o contato com os atores e atrizes pornôs. Todos esses materiais e vivências foram muito marcantes não só para a produção e roteiro, mas também para os atores que puderam contar com informações de fontes primárias.

Quanto à construção dos personagens, Natália Lage comentou sobre os paralelos entre ela e a personagem Sophia, e que isso foi fundamental para a formação do caráter: ambas tinham pouco contato com o universo da pornografia, e, ainda que a atriz seja consideravelmente liberal, o quanto precisou desconstruir seus preconceitos em relação a isso. No caso da personagem, estes são ainda mais agravados, e ainda que paralelos, a curva de sua mudança representou também um desafio, dado que esta tem a mente mais fechada. Por sua vez, a presença de profissionais do pornô foi fundamental no processo de compreensão desse universo, pois deixou de ser algo tão distante.

Os outros atores principais também expressaram o quanto a preparação da série levou a várias quebras de expectativas e preconceitos com o cenário pornô para a construção de seus personagens. Martha Nowill quando pesquisando o material, percebeu o quanto ainda carregava preconceitos, ainda que fossem despercebidos. Segundo ela, esse trabalho foi bem produtivo, dado que pôde trabalhar uma personagem que não só está familiarizada com a situação, mas muito confortável.

Denise Del Vecchio se viu surpresa ao ser chamada para este projeto, pois o perfil é diferente do qual normalmente é chamada para interpretar, e considerou-a um complemento à sua carreira. Para ela, a personagem – mãe do dono da produtora pornô da série – percebe com naturalidade a pornografia, transbordando em partes para si esta visão, vendo um pouco mais este meio como um trabalho.

Júlio Machado enfatizou a excelência do trabalho com o outro, e da equipe de preparação do elenco para criar um clima de confiança e familiaridade, de forma a criar situações cômicas, mas com respeito e sensibilidade ao abordar um tema polêmico e delicado como as produções pornográficas. Além disso, ele também enfatizou a importância do contato com as atrizes e atores pornôs para o desenvolvimento da série.

Fernando Alves Pinto comentou sobre o cuidado que foi necessário para não tornar seu personagem exagerado. Pierre é um pornógrafo que se envolveu cedo com este mercado, e ainda carrega o machismo um pouco mais acentuado dos tempos anteriores – e é o limite entre o sério, o cômico, e a facilidade de torná-lo caricato é uma armadilha considerável. Quando questionado como se dava a diferença entre Pierre e outros personagens de sua carreira, respondeu que não tem nenhum comparável, e que prefere papéis radicalmente diferentes uns dos outros, que ser um camaleão em seu trabalho torna mais interessante.

“Hard” estreia no Brasil dia 17 deste mês, e estará disponível tanto no canal HBO quanto no serviço HBO Go.

por Ícaro Marques – especial para CFNotícias