Especial 007: A era de Sean Connery (1962 a 1971)


Para quem não sabe, James Bond nasceu na literatura. Seu autor, o britânico Ian Fleming, o apresentou para o mundo no livro “Cassino Royale”, de 1953, que conta a primeira missão do agente secreto, em que precisa vencer um jogo de cartas para impedir que um terrorista concretize um plano diabólico.

Percebendo certa popularidade de sua criação, Fleming tentou de várias formas levar Bond para o cinema. No começo não deu muito certo. Quem conseguiu tal façanha foram os produtores Albert R. “Cubby” Broccoli e Harry Saltzman, no início da década de 1960. Mas o caminho foi árduo.

Sem poder adaptar “Cassino Royale”, que teve seus direitos autorais vendidos durante as primeiras tentativas frustradas de filmes, a dupla teve que se virar e achar em outro livro (Fleming escreveu 14) a melhor forma de apresentar o herói na grande tela. O felizardo foi “007 Contra O Satânico Dr. No”, escrito em 1958.

CONNERY ENTRA EM CENA

A responsabilidade de Broccoli e Saltzman era enorme, afinal de contas, o personagem não podia fracassar mais uma vez nas telonas para não ser esquecido para sempre. Por isso, era necessário que quem interpretasse o agente fosse alguém que tivesse uma presença forte durante as cenas e, ao mesmo tempo, fosse sarcástico em determinados momentos, já que o espião nos livros tem essas características.

Tudo isso foi achado num ator em ascensão, chamado Sean Connery. O que posso dizer é que a escolha foi perfeita! Logo em sua estreia no papel, em 1962, o escocês trouxe para o personagem classe, carisma, humor áspero e mais: um charme que não era tão marcante nas páginas dos livros, mas que virou uma das principais marcas registradas do espião.

Prova disso é a sua primeira cena como 007. Nela, ele está jogando cartas em um cassino quando uma bela moça diz que admira a sua sorte e pergunta o seu nome. Ao som do tema clássico do personagem, composto por John Barry, ele simplesmente acende um cigarro e responde com calma: “Bond… James Bond”. Pronto! Com essa entrada triunfal, vemos que James Bond não é qualquer um e, sim, uma das melhores criações do século 20. Ah, e a forma peculiar que o protagonista diz o seu nome ficou tão marcante, que passou a ser repetida na maioria dos filmes seguintes.

O FENÔMENO GOLDFINGER 

“Contra o Satânico Dr. No” foi um sucesso e a sequência, “Moscou Contra 007”, também caiu no gosto do público, em 1963, principalmente por ter uma boa trama de espionagem que contextualiza bem a Guerra Fria, que estava bem forte no mundo naquele período. No entanto, o personagem virou realmente um fenômeno mundial em 1964, com “007 Contra Goldfinger”, o melhor filme de toda a franquia, diga-se de passagem.

O motivo? O vilão é um dos mais malignos da franquia e exige muito da astúcia de Bond, principalmente no momento em que o herói é torturado e é quase derretido por um lazer.

Mas não é só isso que fez Bond se transformar em um ícone. Há outros elementos que contribuíram. Por exemplo: se uma bela mulher usando um biquíni branco causou grande alvoroço (lembrar da cena icônica em que a atriz Ursula Andress sai do mar com trajes de banho em Dr. No), o que dizer de uma jovem deitada na cama, pintada todinha de ouro? Uma ousadia e tanto para a época, certo?

Além disso, é nesse filme também que vemos pela primeira vez o clássico carro Aston Martin DB5, que tem alguns truques exóticos, como metralhadoras nas lanternas e até um ejetor de pessoas. E a trilha sonora? Poderosíssima, já que tem Shirley Bassey, uma das melhores cantoras de todos os tempos, no vocal.

O CASO THUNDERBALL

Ao todo, Connery fez sete filmes como James Bond. Ele deixou o papel em 1967, após fazer “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes”. Voltou em 1971 em “007 Os Diamantes São Eternos”, ganhando um dos maiores cachês da história do cinema, tudo para tentar apagar o fracasso do longa anterior, “007 A Serviço Secreto de Sua Majestade”, estrelado por George Lazenby (falaremos mais sobre isso no próximo texto).

Em 1983, o escocês também voltou na pele do agente em “Nunca Mais Outra Vez”. Esse filme não faz parte da franquia oficial, portanto não é tão lembrado. Tudo porque os direitos autorais da história de “007 Contra a Chantagem Atômica” (Thunderball, no inglês) pertenciam a Ian Fleming e Keving McClory. Em 1965, foi filmado a versão original de Fleming. McClory não gostou e processou o estúdio de plágio. Anos mais tarde, foi feita a versão de McClory, que é justamente “Nunca Mais Outra Vez”. Hoje, esse processo está encerrado e quem teve ganho de causa foram os defensores de Ian Fleming.

Independente desse imbróglio, Sean Connery deixou um legado e tanto, além de virar um dos grandes atores da história de Hollywood. E tem mais, não é à toa que ele é considerado até hoje o melhor James Bond de todos os tempos, pelo menos para esse humilde escritor. Ele é o melhor 007 porque colocou de vez o personagem no radar do mundo e mostrou que um super-herói não precisa necessariamente usar capa e ter grandes poderes. Basta vestir um smoking sob medida e ser sedutor ao beber uma Vodca Martini batida e não mexida.

por Pedro Tritto – Colunista CFNotícias